sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Não é pra qualquer um



Pois é. Às vezes é um pouco bem bastante muito difícil confiar nas críticas de filmes d’O Globo.

Rodrigo Fonseca, crítico de cinema, desfaz e sem a menor cerimônia de um filme excelente em tudo – desde a narrativa até à música. O trabalho de direção está apaixonada e rasgadamente apresentado no desempenho dos protagonistas.

Michael Heneke, austríaco de corpo inteiro; até onde eu pude conhecer seu trabalho, serve-se dos sinais (signos e símbolos) para contar uma história – CACHÉ, CÓDIGO DESCONHECIDO, e A PROFESSORA DE PIANO estão aí para serem conferidos.

No filme CACHÉ – o título em francês = escondido – já anuncia uma “procura”, onde há sinais a decifrar.

CÓDIGO DESCONHECIDO – há título mais evidente? – trabalha com a mesma angústia.

A PROFESSORA DE PIANO – há no título algo a decifrar; as cenas de sexo explícito são necessárias sim. Não com a finalidade de erotizar e sim, eu penso, em se conhecer o mundo de fantasia em que a protagonista vive. E neste filme, tão explícito quanto às cenas de sexo, pode-se ver a força dos códigos que devem ser respeitados para felicidade geral e da nação, ora! Ela é meio pancada? Nããão! Ela é totalmente pancada. E por quê? Não sei, não tenho competência para diagnosticar. Mas o que importa no filme são os códigos de cada personagem. O jovem que se envolve com a professora de piano acaba por dizer: “não se age assim com um homem!” – olha aí ele verbalizando um código que esta sendo desrespeitado.

É claro que somos todos um monte abagunçado de códigos! Mas os filmes em questão tratam realmente desse tema. Eu acho. Estando eu enganada, de joelhos peço, corrijam-me.

Em VIOLÊNCIA GRATUITA ou Funny Games tudo se desenrola a partir da má ou nenhuma leitura dos códigos ou “sinais” apresentados. Passo a usar a palavra ‘sinais' pra me facilitar a tarefa.

Heneke tece arte com o simbólico; tudo é calcado na linguagem – não importa qual, e a mais simples é sempre a mais sofisticada (gestos, sinais). Vide em CÓDIGO DESCONHECIDO. Em Heneke há a recorrência de um tema: comunicação.

Já dizia Chacrinha na sua sábia filosofia de buzina: “Quem não se comunica se trumbica!”

Complicadíssimo esse tema. Nem Deus se deu bem com Adão, Eva, e Caim! esse foi demais.

O preconceito, racismo e outros “que tais” vêm do sentimento de “não somos iguais”, a que Freud chama de “narcisismo das pequenas diferenças” (uau!).

Quando você não-se-identifica-com nada é possível. O outro passa a ser um ET que não sente, não sofre e nem há porque estar vivo. Merece, talvez, um misericordioso desprezo cristão.

Em CÓDIGO DESCONHECIDO Heneke dá à tônica do seu trabalho: o mundo é o que é – uma merda – porque não há um único código para todos. Se eu desconheço seu código você não “entra na minha” nem eu “na sua”. Fica bem claro nesse filme porque na França o porteiro eletrônico dos prédios de residência têm um código.

Em VIOLÊNCIA GRATUITA é um caso flagrante de folie à deux – quando dois loucos se encontram e brindam à loucura, é sempre de forma nefasta. Ainda assim há um código e, o mais importante, houve um sinal; sinal esse que não foi apresentado na primeira versão do filme, há 10 anos, e com o mesmo título em inglês.

Não vou dizer qual o sinal, senão, meus lindos e lindas também, perde a graça!

Os dois rapazes saíram da realidade. Estavam no perigoso exercício de viver uma fantasia! Macabra fantasia! Terror puro! Mas da melhor qualidade, em vez de monstrinhos virtuais cuspindo baba pegajosa. Para com isso!

Viver fantasias é sempre perigoso. Sempre.

Não acreditem no Rodrigo Fonseca. E nem em mim. Tudo bem. Mas um dos quatro comentados é bom conhecer.

2 comentários:

Paulo Tamburro disse...

Excelente.Voltarei sempre.Prabéns!

Anônimo disse...

Dos que citou, assisti "Caché", e amei! Ele traz sim, sinais... de gritos silenciosos pedindo por atenção...
http://lella.wordpress.com/2008/03/14/cache-hidden/

Lindona! Darei retorno aos emails amanhã.

Beijo grande,