domingo, 3 de fevereiro de 2013

DJANGO VIVO E AMANDO




Todo o bom diretor é inteligente e tem um esperado nível de cultura, ou sabe onde procurar o que necessita para seus filmes, ou arranja pessoal que o faça.



Amor à Queima Roupa - O primeiro filme em que vi o nome Quentin Tarantino, unicamente porque achei a história excelente (ótimos atores, inclusive Gary Oldman) e me interessei em conhecer o autor; era ele, Tarantino.



Então passei a assistir todos os filmes que foram apresentados no Brasil, sendo ele diretor ou o autor da história e roteiro.



A meu ver, Tarantino sempre trabalhou com a intenção (consciente ou não) de mostrar o bizarro e grotesco da violência - por isso há cenas que nos fazem rir apesar de ensopadas de sangue.

Kill Bill, Bastardos Inglórios, A Prova de Morte, Cães de Aluguel, Pulp Fiction, Jackie Brown, Eles Matam Nós Limpamos, Um Drink no Inferno, Assassinos por Natureza, além de muitos programas de Saturday Night Live, e outros tantos de CSI, estão na filmografia deste diretor.



Quentin Tarantino trabalha com a violência. E muito bem.



Chamou-me a atenção, o fato de que em todos os filmes que levam o nome Tarantino, seja na direção ou na história, sempre começam in media res, o termo latino que quer dizer “no meio da coisa, do assunto, do fato” - é o que se diz das obras de Homero. Tarantino, ele também, só nos conta uma história depois que o fato já existe e evolui há algum tempo, tempo suficiente para mostrar que o fato existe e que ainda falta o importante que, além de o determinar, vai levá-lo ao fim.

Como alguém que nos avisa: a situação está assim, vai evoluir desta forma e terminar inexoravelmente como o destino guia o herói. Assim entendo as histórias de Tarantino.



O protagonista vence, ainda que morra (que não é este o caso, pois o título já o diz “vivo”), porque é ele quem comanda a ação. Ele está acima do comum mortal e tem poderes que assim o fazem.

Além disso, o protagonista nem sempre é “o mocinho bonzinho” - os heróis de Tarantino são gregos; são os que sofrem a ação, os que suportam e lutam na agonia do embate; são sempre os dois: o protagonista e o antagonista, se olharmos, sem preconceito e com simpatia, o que nos informa o clássico teatro grego.



Em DJANGO UNCHAINED ou DJANGO VIVO, ele informa com todas as letras o que irá ser narrado no filme, e o faz em estilo: um alemão, dentista e que faz o “bico” de caça recompensa, é ele quem diz a DJANGO que a história dele, jovem apaixonado, era semelhante à de Siegrefied e Brunhilde. E ali, nas terras do sul dos USA, um escravo negro passa a conhecer um episódio importante da complicada mitologia nórdica. O alemão, com direito a sotaque, compara o escravo Django ao herói germânico Siegrefied que vai matar o dragão, atravessar o círculo de fogo e libertar sua Brunhilde, a linda Broomhilda negra, do castelo onde estava encarcerada.



A partir desse ponto começa realmente o filme. Ora, escravidão, escravos separados das famílias e outras crueldades o mundo já conhece e desde a antiga Suméria; senhor/escravo é inerente ao ser humano, não importa o ano, o lugar ou o tipo de escravidão. Mas um Siegrefied negro e acorrentado?! É demais!



Não há ideologia a defender nesse Django a não ser a do Amor - ele só luta em prol do seu amor, ele quer de volta a sua amada - fosse ela escrava, prisioneira política, ou encerrada num mosteiro.



A coragem e habilidade em manejo da arma eram decididamente uma proteção de todos os deuses que o transformavam numa metralhadora humana, ele Django conseguindo matar o Dragão - o negro chefão dos escravos - e atravessar o círculo de fogo - o tiroteio da multidão de pistoleiros que brotavam de todos os lados, e finalmente, levar a sua linda mulher para bem longe do maldito castelo.



Com Tarantino, as cenas de tiroteios são inesquecíveis!



A trilha sonora é Tarantino, e não é a primeira vez que o faz. E nem é a primeira vez que escolhe compositores italianos - em KILL BILL 2, várias composições de E. Morricone e uma de Riz Ortolani.



Neste filme, os nomes que criou para as personagens são uma brincadeira deliciosa!

O dentista alemão é Dr. King Schultz. Há algo mais alemão que Schultz?! O malvado sinhozinho branco é Calvin Candle...hahahahaha! Franco Nero, o italiano que estava fazendo o quê? naquelas paragens é uma gozação à altura: Amerigo Vespessi, quase um Americo Vespucio! E para encerrar numa marotice, o próprio Quentin Tarantino é um empregado da firma The Le Quint Dickey Mining Co. Demais! Demais! E mais demais!



E é tão bom saber que Django está vivo e amando!

sábado, 26 de janeiro de 2013

AMOR. AMOR! AMOR? AMOR...


Quem conhece os filmes do Michael Heneke sabe que ele só trabalha com a dificuldade do ser humano em lidar, em viver, em administrar o que ele tem de mais doente. São sempre duas pessoas se completando em algo difícil e penoso de se suportar. Não há o relacionamento agradável ou pelo menos saudável. Não há vítima sem algoz.


Parece-me que para ele, Michael Heneke, qualquer relacionamento, ainda que o social , é falho ou incompleto ou insustentável, jamais de uma forma que chamaríamos normal.

Não seria nesse filme, assustadoramente belo, que ele iria tomar outro caminho. Se a receita vem dando certo.

Por acaso me apaixonei por esse diretor desde A PIANISTA - o seu primeiro filme levado ás telas do Rio.

A seguir CÓDIGO DESCONHECIDO, apesar de ser anterior à A PIANISTA.

CACHÉ (mantido o nome francês: caché = escondido).

FITA BRANCA que anuncia, a meu ver, a perversão do nazismo.

VIOLÊNCIA GRATUITA que mostra o prazer da maldade, numa apresentação notável da folie à deux, sem a visão explícita de uma ligação erótica.

AMOR - todos a quem perguntei sobre o filme falaram de um amor lindo, romântico, verdadeiro, dedicado, etc etc etc.

Para mim, se aquilo é amor, dispenso.

Explico:

- não consegui ver, em nenhuma cena, uma atitude carinhosa entre os dois;

- não consegui ver o casal num relacionamento franco e generoso;

- quando ele se lembra da mulher com saúde não é num momento de ternura ou de alegria, é ela ao piano; era isso que ele mais gostava nela: a arte, o sucesso...talvez invejado;

- ele, uma figura apagada, um marido sempre vivendo á sombra da fama da mulher;

- o cumprimento gentil “você estava linda no concerto, querida”, ou algo semelhante, pareceu-me um lugar comum na relação, tanto que a mulher agradeceu educadamente e basta;

- pareceu-me um casal inglês vitoriano - acho que a rainha Elizabeth e Philip devem ser mais descontraídos e afáveis;

- onde estão as discussões por tolices tão comuns nos casais velhos e que se querem bem... e as ranzinzices que acabam em risos ou resmungos?

- a cena em que ele num abraço a levanta da cadeira não havia absolutamente nada de “abraço carinhoso”, era a melhor forma de a levantar, como a esposa mesmo o ensinou; nada mais que um “abraço necessário”;

- ela, mulher autoritária, insuportavelmente autoritária, e que não conseguia receber o carinho nem mesmo do antigo aluno;

- durante a refeição ela resolve ver um álbum de fotos e pede que o marido o apanhe; ele pergunta, no meio da refeição e com o garfo na mão:”Você quer o álbum agora? “ e ela sem se alterar responde com um sim categórico;

- muitas pessoas tomaram a doença da mulher como Alzheimer e o que ela teve foi um AVC e a seguir outro - no primeiro tentaram retirar o coágulo, porém não houve sucesso na cirurgia; por isso ocorre o segundo AVC e a progressão da doença se apresenta inexoravelmente; sabe-se que um AVC nunca vem sozinho;

- a personalidade autoritária e orgulhosa se tornou mais evidente com a doença; com certeza ela não admitia ser vítima de uma doença que lhe quebrasse a pose;

- ele, o marido, era um acompanhante atento e paciente; mas não amoroso; viver com uma concertista e professora com certeza tinha que ser disciplinado, portanto ele fazia o que devia ser feito; cumpria a sua tarefa á risca, como um profissional;

- despedir a governanta sádica não me pareceu amor e sim mais um ato correto e, acima de tudo, maltratar a sua mulher e ele sabendo o permitir era afrontar seu orgulho de marido e, afinal, ele não queria que a maltratassem; mais tarde acrescento mais um comentário algo a esta cena;

- ele era muito frio em tudo; jamais uma irritação, um gesto de piedade; repito, ambos reservados dentro da própria intimidade;

- quanto á filha nada a comentar porque é o comum acontecer nos casos semelhantes;

- ao ver que ele já não estava suportando mais a situação e que agora ele comandava o show, sem medo, sem obediências, sentiu-se livre até o ponto de a espancar...ele,sem saída, sem quem o ajudasse, ele iria certamente se vingar ainda que inconscientemente de toda a opressão e velada humilhação em que sempre vivera; conscientemente jamais desejaria maltratar a mulher indefesa;

- a bofetada que ele deu foi com força e com um ódio que ele não conseguiu disfarçar; não houve um crescendo de irritação verdadeira at´´e chegar a esse ponto de agressão; ele falava com calma e chegou a argumentar; pela primeira vez ele exigiu ser obedecido, não interessava o motivo; pela primeira vez ele foi o “macho”;

- um homem disciplinado, habituado a fazer o que era certo, viu que não conseguiria mais sustentar tal situação - ele iria começar a agir mal, e isso ele jamais se permitiria;

- então...COM VIOLÊNCIA matou a mulher; sim, com violência; bastava deixar de dar os remédios ou aumentar a dose dos remédios...nenhum médico iria estranhar uma morte esperada;

- e eu faço a pergunta: ELE A MATOU PARA QUE ELA NÃO MAIS SOFRESSE OU PORQUE ELE NÃO MAIS QUERIA SOFRER? A EUTANÁSIA È UM DESCANSO PARA QUEM?

Aquele quarto fechado, onde com certeza ela apodreceria - uma humilhação! Um desrespeito pelo corpo! Foi o que mais me impressionou. Por que trancá-la?

Ao final do filme, depois que ele a mata, há a cena quando eles saem de casa - e mesmo nessa cena, não importa o seu significado, é ela quem comanda indo à frente e dizendo que ele se apressasse...Até depois de morta é ela quem comanda!

Não se sabe o que houve com ele. Supõe-se que ele tenha também morrido, ao vermos a filha chorando e sozinha, no “salon”.

A simbologia do pombo é a paz, mas francamente não consigo ver isso:

. a primeira pomba, escura, ele tranquilamente a encaminhou á janela, por onde ela saiu;ele ainda se sentia com alguma liberdade então, com jeito apanhou a pomba e a lançou ao ar, pela janela;

. a segunda pomba, também escura, não encontrava a saída, e ele impaciente e irritado começa a “caça” com uma tolha,e quase a esmaga, até por fim a atirá-la para fora da janela com irritação e violência.

Pareceu-me que, quando da segunda pomba, ao tentar enxotá-la, já demonstrava que não estava nada simpático a dar a liberdade, a ajudar a sair de onde tudo estava piorando, onde ele também estava perdido sem achar saída; acho que ele se identificou coma pomba, tonta , sem conseguir alçar voo para a liberdade, fora dali.

A título de curiosidade, e porque estou relendo o EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (agora em edição com notas de roda pé), vi uma ponte interessante entre a cena em que a acompanhante penteia mal e com brutalidade a mulher inválida que segura um espelho, onde não se quer olhar; e enquanto a penteia a acompanhante repete “olha como está bonita” , “veja como está bonita”. Cena terrível porque é verdadeira.

Veio-me logo à lembrança uma passagem em que o narrador de EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO descreve a cena exatamente igual em que a avó, já bem idosa é penteada por uma antiga empregada que força a velha senhora a se olhar no espelho, para que veja como está “bonita”. A velha ao se ver tão velha e feia começa a gritar, desesperada. Neste caso a empregada não causou esse sofrimento conscientemente, mas com certeza inconscientemente.

A relação de poder patrão/empregado por melhor que seja é sempre cruel.

A VINGANÇA É PROPRIA DO HOMEM, está no Gênesis. Há sempre uma vingança no ar...pequenina, disfarçada, ou arrogantemente explícita. É da nossa natureza.

E a palavra AMOR é uma máscara conveniente a muitos relacionamentos sem amor.





sexta-feira, 10 de agosto de 2012




Da série   UÉ! NÃO É NÃO?!






                                Afia pra mim...









sexta-feira, 20 de julho de 2012

SANTOS & PECADORES

                                                                                                                                                                                                                         

SANTOS & PECADORES


Esse negócio de comentário é blá-blá-blá jogado fora porque não tenho competência para o assunto. Mas como escrevo tolices no verão, imagine neste inverno radical!



Do pouco que sei, só pra lembrar a mim mesma.


Seja no Brasil ou fora dele os museus me atraem. Não por tudo que eles oferecem; somente pinturas e esculturas de escolas, de determinadas épocas, fazem-me ficar muitos minutos hipnotizada pela arte .
Além do que me emociona no conjunto da obra, tento localizá-la no tempo e no espaço em que foi realizada, para entender “o olhar do artista”.


Encanta-me a variedade de concepções de um mesmo tema.
Por exemplo, a Natividade, que muitas vezes tem o nome de Adoração dos Reis Magos, é numa mesma época e numa mesma região, representada de maneiras diversas.


 A seguir observo, “reparo”, nas vestimentas, penteados, joias, calçados, ambiente interno ou externo, gestos, enfim tudo que traz mais informação da época em que foi criada a obra de arte.


E aí me divirto muito!


Há detalhes interessantes, insólitos e cômicos. Há rostos, em quadros holandeses e alemães, que eu reconheço nas ruas de Berlim ou de Amsterdam. Os rostos se repetem! Ter feito o ser humano no último dia de criação, parece, já se havia esgotado a imaginação.


Esse negócio de “amar” um quadro, ou qualquer obra de arte, ou qualquer artista, é uma questão de empatia. A gente gosta quando “bateu” bem em algo que nos comove. Como tudo na vida; e é o que me explica o gosto por quadros com respingos de tinta, ou rabiscos desesperados.


Sei que toda a obra de arte tem algo a dizer, mas há algumas que contam segredos e pra pouca gente.


O quadro que escolhi é muito famoso. Ele se encontra na Igreja da Santa Croce, em Florença; às vezes ele não está exposto porque há um rodízio de quadros, sabe-se lá por que!


Um lindo colorido mostra Jesus baixando ao Limbo - que é uma alegoria porque até onde eu sei Jesus nunca esteve no Limbo, e se esteve não me avisou.


Limbo, para os infiéis que desconhecem o significado, é o lugar para onde vão os pagãos “sem querer”: as criancinhas que morreram sem o batismo, deficientes mentais, e os que não tiveram a bênção (!) de tomarem conhecimento do Cristo (indivíduos de comunidades longínquas da civilização, e os corintianos por exemplo). Enfim, o Limbo é uma das bondades criadas pelo Cristianismo para essas almas não ficarem assombradas sem terem para onde ir, superlotando centros espíritas e terreiros.


O Catolicismo foi se fortalecendo com esses atos justos, como a Confissão e as penitências idiotas, o pagamento de Indulgências Plenárias e na sua magnitude a Santa Inquisição. Há muito mais, porém não quero ficar aqui me vangloriando da minha religião - e por favor não a confundam com a minha fé.


Vejam que apesar da presença de Jesus, que pudicamente desvia o olhar, há muita sacanagem implícita neste quadro de igreja
Logo no primeiro plano duas “piriguetes” de peitos siliconados em atitude de “vem cá meu bem”. A que está mais atrás faz gênero low profile e é louca pra morar num loft.
O rosto de uma jovem, na parte esquerda do quadro que, olhando para a objetiva, parece dizer: “Uma chatice e um transtorno essa visita de última hora...quando isso vai acabar?!”
Vocês que têm olhos pra ver, analisem o resto do quadro.


Se essas mulheres não têm pudor imagine quem vai educar essas criancinhas desavergonhadas se agarrando?
Sempre me incomoda, por mais que eu veja, a presença dos putti (criancinhas peladas e erotizadas e erotizantes) em inúmeros quadros. Mesmo os de tema religioso; é bizarro - isso é que é bizarro! E não são anjinhos, são putti!
Putto, na Itália, como em Portugal (puto) são crianças antes da puberdade.
Já sabemos que Eros, ou Cupido, é uma criancinha-peladinha-safadinha que atira a esmo suas flechas, e as mulheres acabam engravidando e os homens pagando pensão. Apesar de criancinha é um personagem de mitologia grega, portanto não um puto qualquer, diriam os portugueses.


Quadros com figuras em atitude sensual e misturados com crianças encontram-se aos montes em igrejas, em sacristias, em palacetes da alta esfera do clero chegando até o palácio do Vaticano, e entendo que tenham função erotizante . E há uma pedofilia flagrante!
Não me venham chamar de maldosa! Os quadros estão lá pra quem quiser ver. E não sou contra, absolutamente! Acho todos lindíssimos. Só estou relatando o que vejo.


Atualmente há dois seriados sobre os Bórgia na TV a cabo. Lá está, muito bem representado em ambos os seriados, o Papa Alexandre VI, Rodrigo Bórgia, espanhol arretado, que confirmou ser pai de 3 jovens perante um conclave, no Vaticano.
Antes dele e depois dele papas, cardeais e bispos pintavam e bordavam a ouro!
Até o século XX era uma farra papal! O Papa anterior ao Pio XII tinha amante teúda e manteúda, toda a Itália sabia.


Graças a Deus o Catolicismo mantém o celibato no clero; se assim não fosse as mais lindas e valiosas obras de arte estariam todas espalhadas sabe-se lá onde, ou até estropiadas na posse de quem não lhes dá o justo valor. Imagine na hora da morte do papa . O que a mulher, a Mme. Papa, iria distribuir pela família, pelos favoritos e para o amante !
Por isto sou a favor do celibato no clero. O que não explica e muito menos justifica nem o homossexualismo e nem a pedofilia. Somente a bobeira e não terem a capacidade de aconselhar ninguém quanto a sexo normal, sadio. Conhecimento somente teórico não faz ninguém bom profissional.


Depois do que acabo de escrever, o dia em que eu chegar ao Céu vou ter que me explicar. Sempre me explicando...ô vida!